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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Lembrança de Uma Existência Anterior






Excelente texto para análise e reflexão:


Um dos nossos assinantes nos comunicou uma carta de um de seus amigos, da qual extraímos a passagem seguinte:


"Pedistes a minha opinião, ou antes a minha crença na presença, ou não, junto a nós, das almas daqueles que amamos. Pedistes, também, algumas explicações quanto à minha convicção de que as nossas almas mudam bastante rapidamente de envoltório.


"Dir-vos-ei, por ridículo que isso possa parecer, que a minha convicção sincera é ter sido assassinado durante os massacres de São Bartolomeu. Eu era bem criança quando essa recordação veio ferir a minha imaginação. Mais tarde, quando li essa triste página da nossa história, pareceu-me que muitos desses detalhes me eram conhecidos, e creio ainda que se a velha Paris pudesse ser reconstruída, eu reconheceria essa sombria alameda onde, fugindo, senti o frio de três golpes de punhal pelas costas. Há detalhes dessa cena sanguinolenta que estão na minha memória, e que nunca desapareceram. Por que eu tinha essa convicção antes de saber o que era a São Bartolomeu? Por que, lendo o relato do massacre, eu disse a mim: foi o meu sonho, aquele desagradável sonho que tive em criança, e cuja lembrança ficou-me tão vivaz? Por que, quando quis consultar a minha lembrança, forçar o meu pensamento, fiquei como o pobre louco ao qual surgiu uma idéia, e que parece lutar para encontrar de novo a sua razão? Por que? Disso não sei nada. Achar-me-eis ridículo, sem dúvida, mas com isso não guardarei menos a minha lembrança, a minha convicção.


"Se vos dissesse que tinha sete anos quando um sonho me veio, e ele era tal: Eu tinha vinte anos, era jovem, bem posto, penso que era rico. Vim bater em duelo, e fui morto. Se vos dissesse que essa salvação que se faz nas armas antes de bater-se, eu a fiz a primeira vez que tive um florete na mão. Se vos dissesse que cada preliminar, mais ou menos graciosa, que a educação ou a civilização colocaram na arte de se matar, era-me conhecida antes da minha educação nas armas, dir-me-eis, sem dúvida, que sou louco ou maníaco; talvez muito, mas parece-me às vezes que um clarão fura esse nevoeiro, e tenho a convicção de que a lembrança do passado se restabelece na minha alma.


Se me perguntardes se creio na simpatia das almas, no seu poder de se colocar em contato elas mesmas, apesar da distância, apesar da morte, eu vos responderei: Sim, este sim será pronunciado com toda a força da minha convicção. Ocorreu-me encontrar-me a vinte e cinco léguas de Lima, depois de oitenta dias de viagem, e despertar todo em pranto com uma verdadeira dor do coração; uma tristeza mortal se apoderou de mim, todo o dia. Consignei este fato em meu diário. Em hora semelhante, na mesma norte, meu irmão foi atingido por um ataque de apoplexia que comprometeu gravemente a sua vida. Confrontei o dia, o instante, tudo estava exato. Eis um fato; as pessoas existem, dir-me-eis que sou louco.


"Eu não li nenhum autor tratando de semelhante assunto; fá-lo-ei em meu retorno; talvez essa leitura derramará um pouco de luz em mim."


O senhor V..., o autor desta carta, é oficial da marinha e atualmente em viagem. Poderia ser interessante ver se, evocando-o, confirmaria as suas lembranças, mas haveria a impossibilidade de preveni-lo quanto à nossa intenção, e por outro lado, em razão de seu estado, poderia ser difícil encontrar um momento propício. Todavia, nos foi dito para chamar o seu anjo guardião quando quiséssemos evocá-lo, e que ele nos diria se poderíamos fazê-lo.


1. Evocação do anjo guardião do senhor V... - R. Atendo ao vosso chamado.


2. Conheceis o motivo que nos faz desejar evocar o vosso protegido; trata-se, não de satisfazer uma vã curiosidade, mas de constatar, se isso for possível, um fato interessante para a ciência espírita, o da lembrança de sua precedente existência. - R. Compreendo o vosso desejo, mas no momento seu Espírito não está livre, está ocupado ativamente pelo seu corpo e numa inquietação moral que o impede de estar em repouso.


3. Está ainda no mar? - R. Está em terra; mas eu poderia responder a algumas de vossas perguntas, uma vez que aquela alma sempre esteve confiada à minha guarda.


4. Uma vez que sois bastante bom para responder-nos, perguntaremos se a lembrança que ele acreditou ter conservado de sua morte numa precedente existência é uma ilusão? - R. É uma intuição muito real; essa pessoa estava bem na Terra nessa época.


5. Por qual razão essa lembrança é mais precisa para ele que para outras pessoas? Há nisso uma causa fisiológica ou uma utilidade particular para ele? - R. Essas lembranças vivazes são muito raras; ela se prende um pouco ao gênero de morte que a impressionou, de tal modo que está, por assim dizer, encarnado em sua alma. Entretanto, muitas outras pessoas tiveram mortes também terríveis, e a lembrança não lhes permaneceu; Deus não permite isso senão raramente.


6. Desde essa morte, quando da São Bartolomeu, ele teve outras existências? - R. Não.


7. Que idade tinha quando foi morto? - R. Uns trinta anos.


8. Pode-se saber o que ele era? - R. Estava ligado à casa de Coligny.


9. Se pudéssemos evocá-lo, a ele mesmo, teríamos perguntado se se lembra o nome da rua onde foi assassinado, a fim de ver-se, colocando-se sobre os lugares, quando viera a Paris, a lembrança da cena seria ainda mais precisa? - R. Foi na encruzilhada Bucy.


10. A casa onde foi morto ainda existe? - R. Não; ela foi reconstruída.


11. No mesmo objetivo, teríamos perguntado se se lembra do tome que tinha? - R. Seu nome não é conhecido na história, porque era simples soldado. Chamava-se Gaston Vincent.


12. Seu amigo, aqui presente, desejaria saber se ele recebeu a sua carta? - R. Não, ainda.


13. Éreis seu anjo guardião nessa época? - R. Sim, então e agora.


Nota: Os céticos, mais maus brincalhões do que sérios, poderiam dizer que o seu anjo guardião guardou-o mal, e perguntar por que não desviou a mão que o atingiu. Embora uma semelhante pergunta mereça apenas uma resposta, algumas palavras a este respeito talvez não sejam inúteis.


Diremos primeiro que, uma vez que está na natureza do homem morrer, não está no poder de nenhum anjo guardião o opor-se ao curso das leis da Natureza, de outro modo não haveria razão para que não impedissem a morte natural tão bem quanto a morte acidental; em segundo lugar, estando no destino de cada um o instante e o gênero da morte, é necessário que esse destino se cumpra. Diremos enfim, que os Espíritos não encaram a morte como nós; a verdadeira vida é a vida do Espírito, das quais as diversas existências corpóreas não são senão episódios; o corpo é um envoltório que o Espírito reveste momentaneamente, e que deixa como o faz com uma roupa quando está usada ou dilacerada; pouco importa, pois, que se morra um pouco mais cedo ou um pouco mais tarde, de um modo ou de outro, uma vez que, em definitivo, é necessário sempre ali chegar, e que essa morte, longe de causar um prejuízo ao Espírito, pode ser-lhe mais útil segundo a maneira pela qual se cumpra; é o prisioneiro que deixa a sua prisão temporária para gozar da liberdade eterna. Pode ser, pois, que o fim trágico de Gaston Vincent tenha sido uma coisa útil para ele como Espírito, o que seu anjo guardião compreende melhor do que nós, porque um não vê senão o presente, ao passo que o outro vê o futuro. Os Espíritos arrebatados deste mundo por uma morte prematura, na flor da idade, freqüentemente nos responderam que era um favor de Deus, que assim os preservara dos males aos quais, sem isto, estariam expostos.





Revista Espírita, julho de 1860


(Sociedade, 25 de maio de 1860.)

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