Blog do CLE Missionários da Luz (o primeiro Clube do Livro Espírita de Olinda- PE), que tem como objetivo reunir os atuais associados, conquistar novos amigos e divulgar a Doutrina Espírita, praticando um dos belos conselhos do Espírito Emmanuel: "A maior caridade que praticamos, em relação à Doutrina Espírita, é a sua própria divulgação."Sejam todos bem vindos ao nosso Blog!Conheça,divulgue, compartilhe conosco este espaço que é de todos nós!

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Reações Violentas


Está se tornando algo comum as pessoas reagirem com violência ao mal que lhes acontece, ou àquilo que está em desacordo com os seus desejos.


Exatamente como a criança indisciplinada reage, gritando, jogando coisas quando suas vontades não são atendidas, as pessoas estão se permitindo agredir, revidar.
Quando o trânsito está lento há os que xingam a administração pública que não planeja vias melhores para o escoamento rápido dos veículos.
Se a loja informa que o artigo em oferta acabou, há os que se acham no direito de agredir os funcionários, acusando-os de propaganda enganosa.
Se o caixa se engana no troco, logo se afirma que ele é um indivíduo desonesto, desejando engordar o próprio salário.
Se a empregada pede para sair um pouco mais cedo, dizendo que deve levar o filho ao médico, logo alguém diz que ela não deseja trabalhar, que está inventando mentiras.
Se alguém esbarra em outra pessoa na rua, de imediato gritam alguns que o sujeito é mal educado, malcriado. Um abuso!
Em síntese, estamos vivendo uma época de muita agressividade. E nos queixamos da violência que toma conta das ruas, sem atentarmos que nós mesmos, muitas vezes, também agimos com violência.
Conta-se que um grande militar, desejando se espiritualizar, escolheu um sábio religioso e lhe perguntou:
- Onde começa o inferno?
O pensador experiente meditou e falou:
- Por que um homem sem escrúpulos deseja saber onde começa o inferno? Cheio de armas destruidoras de vida, acerca-se de mim para perguntas tolas. O que espera que lhe diga, eu, que sou um homem de paz e justiça?
Antes que continuasse, o militar o interrompeu, levantando a espada e exigindo, cheio de raiva, que o sábio o respeitasse.
Sem qualquer receio, o homem velho esclareceu:
- Aqui começa o inferno: na raiva descontrolada.
O guerreiro compreendeu e num gesto rápido, tornou a colocar na bainha a espada, pedindo desculpas.
O sábio então o esclareceu:
- Homem, nesse seu gesto começa o céu.


***

A raiva pode ser comparada a uma faísca portadora do poder de atear grandes incêndios. Basta uma palavra mal pensada, um gesto imprevisto para a gerar.
Quando solta, desencadeia conflitos inúteis e destruidores.
O homem que alimenta a raiva e se deixa dominar por ela, se torna bruto e violento.
Os antídotos para a raiva são a humildade que leva o indivíduo a reconhecer a própria fragilidade; a paciência, que lhe permite acompanhar o desenvolvimento da questão; a tolerância que entende a dificuldade alheia; enfim, o amor que é abençoada luz em todas as circunstâncias.






Fonte: Livro Perfis da vida, cap 6.


Plantão: Estado de Saúde do Raul Teixeira


Raul Teixeira Prossegue com Seu Tratamento Visando Sua Recuperação.





Está escrevendo muito bem com a mão esquerda. A mão direita ainda se apresenta com certa rigidez, requisitando continuado tratamento fisioterápico. Ainda se comunica com limitações, embora, consiga articular palavras e frases curtas.


No período do Carnaval, esteve presente ao lado de amigos da SEF, jovens da Mocidade e de convidados de outras cidades, no tradicional encontro de quatro dias realizado no interior paulista, participando dos estudos realizados na parte da tarde e dos Cultos, à noite. Nos períodos da manhã, rodeado pelos amigos, contava casos e as experiências vividas nas últimas semanas, usando da fala associada aos gestos, que lhe vão permitindo se comunicar.


Raul se apresenta com excelente disposição e com seu conhecido bom-humor.


Sua submissão e confiança na Vontade Divina é contagiante, deixando-nos profundamente comovidos.




Fraternalmente Diretoria da SEF




Fonte:
http://www.sef.org.br/
http://amigoespirita.ning.com/profiles/blogs/ultima-informacao-sobre-estado-de-saude-de-raul-teixeira-28-02

terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Fatalidade e Livre Arbítrio


Antes do regresso à experiência no Plano Físico, nossa alma em prece roga ao Senhor a concessão da luta para o trabalho de nosso próprio reajustamento.

Solicitamos a reaproximação de antigos desafetos.


Imploramos o retorno ao círculo de obstáculos que nos presenciou a derrota em romagens mal vividas...


Suplicamos a presença de verdugos com quem cultiváramos o ódio, para tentar a cultura santificante do amor...


Pedimos seja levado de novo aos nossos lábios o cálice das provas em que fracassamos, esperando exercitar a fé e a resignação, a paciência e o valor...


E com a intercessão de variados amigos que se transformam em confiantes avalistas de nossas promessas, obtemos a bênção da volta.


Efetivamente em tais circunstâncias, o esquema de ação surge traçado.


Somos herdeiros do nosso pretérito e nessa condição, arquitetamos nossos próprios destinos.


Entretanto, imanizados temporariamente ao veículo terrestre, acariciamos nossas antigas tendências de fuga ao dever nobilitante.


Instintivamente, tornamos, despreocupados, à caça de vantagens físicas, de caprichos perniciosos, de mentiroso domínio e de nefasto prazer.


O egoísmo e a vaidade costumam retomar o leme de nosso destino e abominamos o sofrimento e o trabalho, quais se fossem duros algozes,quando somente com o auxílio deles conseguimos soerguer o coração para a vitória espiritual a que somos endereçados.


É,por isso, que fatalidade e livre arbítrio coexistem nos mínimos ângulos de nossa jornada planetária.


Geramos causas de dor ou alegria, de saúde ou enfermidade em variados momentos de nossa vida.


O mapa de regeneração volta conosco ao mundo, consoante as responsabilidades por nós mesmo assumidas no pretérito remoto e próximo: contudo, o modo pelo qual nos desvencilhamos dos efeitos de nossas próprias obras facilita ou dificulta a nossa marcha redentora na estrada que o mundo nos oferece.


Aceitemos os problemas e as inquietações que a Terra nos impõe agora, atendendo aos nossos próprios desejos, na planificação que ontem organizamos, fora do corpo denso, e tenhamos cautela com o modo de nossa movimentação no campo das próprias tarefas, porque, conforme as nossas diretrizes de hoje, na preparação do futuro, a vida nos oferecerá amanhã paz ou luta, felicidade ou provação, luz ou treva, bem ou mal.




Emmanuel
Do livro Nascer e Renascer - Psicografia de Francisco Cândido Xavier

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Livre Arbítrio e Lei de Causa e Efeito


1 - Livre Arbítrio e Lei de Liberdade


Livre Arbítrio

Atingido o patamar evolutivo que permite ao Espírito integrar-se ao reino humano, conquista ele a faculdade do livre arbítrio, ou seja, passa a ter a liberdade de escolha, e torna-se, a partir de então, artífice do seu próprio destino.


Como conseqüência natural do poder escolher, temos a responsabilidade pela escolha como característica básica deste momento evolutivo. Por isso, essa faculdade só pode ser conquistada pelo ser pensante no momento em que ele se acha maduro para tal.


O livre arbítrio é sempre proporcional à condição evolutiva do ser. Nos primeiros momentos de humanidade, o Espírito quase não o tem. Está mais sujeito ao determinismo, porque não tem conhecimento nem experiência para avaliar melhor sua escolha. É como aquela criança a quem não permitimos realizar determinadas ações, por ela não conhecer ainda os perigos que corre.


Nesta fase, o Criador, em sua infinita misericórdia, permite que Espíritos mais elevados tracem-lhe o caminho a seguir, como forma de suprir-lhe a falta de experiência.


O Espírito de média evolução tem menos restrita esta faculdade. É como o jovem, que após passar pela disciplina necessária do momento infantil, tem mais possibilidades de decisão.


O Espírito evoluído é como o homem maduro em que as provações e os corretivos já formaram sua personalidade, e como conseqüência sua liberdade é maior.


“Um dia, no curso dos milênios, o nosso livre-arbítrio se harmonizará plenamente com a verdade total, com as deliberações superiores. Nesse dia saberemos executar, com fidelidade, o pensamento do Cristo, Mestre e Senhor Nosso”[1]


E aí repetiremos com Jesus, “A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou, e realizar sua obra” (João, 4: 34)


Lei de Liberdade


A liberdade é condição básica para que o Espírito se realize. Deus o criou de tal forma que, por natureza, ele busque sempre se libertar, mesmo que de forma inconsciente.


Essa liberdade, porém, não é absoluta, porque a necessidade que tem ele de viver em sociedade, o condiciona a respeitar determinadas normas, porque este direito é dado também a cada um de seus semelhantes.


Com isto não queremos dizer que há a necessidade de uma pessoa se sujeitar à outra por completo, isto seria contrário à lei de Deus.


A escravidão, tenha ela qualquer codinome, é e sempre foi amoral, por isso a necessidade do entendimento da verdade cristã: E conhecereis a verdade e a verdade vos libertará[2], para que não escravizemos ninguém e nem sejamos escravos de nossas próprias imperfeições.


Muitas vezes a desigualdade das aptidões tem sido desculpa para o domínio dos fracos, isto porque esquecemos a Caridade Cristã, que nos define como dever, auxiliar o nosso semelhante naquilo que temos possibilidade, conforme sua necessidade.


São os Espíritos quem dizem: É contrária à lei de Deus toda sujeição absoluta de um homem a outro homem (...)[3]


Portanto temos que a liberdade legítima, decorre da legítima responsabilidade, não podendo triunfar sem esta.


Liberdade de Pensar - Só no pensamento, goza o homem de total liberdade.


A espontaneidade e a criatividade, como fatores espirituais que são, devem sempre estar presentes no pensamento da criatura. É por aí que o Espírito se identifica, evitando que a criatura se robotize, apenas repetindo em circuito fechado o que lhe imprimem, através dos modernos meios de massificação. Como conseqüência, a criatura é sempre responsável pelos seus pensamentos, e pela faixa mental em que se encontra.


Liberdade de Consciência - Por ser a liberdade de consciência corolário da liberdade de pensar, é um dos caracteres da verdadeira civilização e do progresso.


“Assim como os homens, pelas suas leis, regulam as relações de homem para homem, Deus, pelas leis da natureza, regula as relações entre ele e o homem.”[4]


De acordo com a questão 621 de O Livro dos Espíritos, a Lei de Deus está gravada na consciência de cada um. Desta forma, identificamos o porquê da liberdade de consciência, e da sua progressividade à medida que a realizamos em nós.


Fatalidade e Destino - Segundo a codificação Espírita, fatalidade só pode ser entendida como um componente da lei de liberdade, isto é, quando tomamos uma certa atitude, determinamos uma conseqüência, que será boa ou má, de acordo com o conteúdo da ação.[5]


Para elucidar melhor, colhemos as seguintes considerações de André Luiz:


“Ninguém nasce destinado ao mal, porque semelhante disposição derrogaria os fundamentos do Bem Eterno sobre os quais se levanta a Obra de Deus.


O Espírito renascente no berço terrestre traz consigo a provação expiatória a que deve ser conduzido ou a tarefa redentora que ele próprio escolheu de conformidade com os débitos contraídos.


(...)Desse modo, ninguém recebe do Plano Superior a determinação de ser relapso ou vicioso, madraço ou delinqüente(…). Padecemos, sim, nesse ou naquele setor da vida, durante a recapitulação de nossas próprias experiências, o impulso de enveredar por esse ou aquele caminho menos digno, mas isso constitui a influência de nosso passado em nós, instilando-nos a tentação, originariamente toda nossa, de tornar a ser o que já fomos, em contraposição ao que devemos ser.”[6]


A esse mecanismo denominamos “Lei de Causa e Efeito”, e estudaremos suas particularidades, a seguir.


2 - Lei de Causa e Efeito


Isaac Newton foi, sem dúvida, um dos maiores expoentes do mundo científico: grande matemático, exímio físico e destacado astrônomo, revolucionou sua época com inúmeras descobertas. Em uma delas, denominada a terceira lei de Newton, diz o seguinte: a toda ação corresponde uma reação, de igual intensidade e de sentido contrário.


No campo físico, podemos comprová-la inúmeras vezes. Só para exemplificar, vejamos:


O empuxo fornecido pelos motores a jato, nada mais é do que a reação dos gases que são expelidos em alta velocidade (ação). Observemos nesse exemplo os sentidos das duas forças, ação e reação, sempre contrárias.


Quando o esportista praticante do “tiro ao alvo” experimenta o “coice” ao dar um tiro, aí identificamos igualmente a lei de ação e reação.


No campo espiritual, essa lei determina o equilíbrio de toda a criação.


Deus é amor, não existe nada fora de Deus, portanto deduzimos que não existe nada fora do amor. O que é contrário à lei de Deus, na realidade não existe de forma absoluta; podemos afirmar que o seu existir tem caráter simplesmente transitório.


Ao atuarmos de acordo com a lei do Criador, entramos em Seu campo vibratório, e passamos a desfrutar da nossa herança, que é a vida em toda sua plenitude. “Eu vim para que tenham vida…” nos disse Jesus, e complementa: “…e a tenham com abundância.”[7]


Quando com nossas ações contrariamos a Lei, na realidade não desequilibramos nada a não ser nós mesmos. Vejamos que as criaturas vivem em desequilíbrio, mas apesar de tudo, o mesmo não acontece com a Criação, que é sempre equilibrada. Isto é devido à atuação da lei de causa e efeito, que age na intimidade da criação.


Ao escolher, o homem, fazendo uso de seu livre arbítrio, o caminho do erro, determina em si uma ação de igual intensidade e em direção contrária, que anula no mesmo instante o desequilíbrio no geral, ficando somente a anomalia em sua própria intimidade, até que pela lei do retorno volte ele ao equilíbrio refazendo o caminho percorrido em sentido contrário, e entrando novamente no campo de ação determinado pelo Amor.


Esse voltar à Lei, pode ser mais ou menos rápido, de acordo com a conscientização da criatura, e a sua vontade de corrigir o erro. Assim temos Espíritos que se arrependem rapidamente, e consertam o passo; outros insistem na rebeldia, e vão gerando erros em cima de erros, demorando séculos e mais séculos no resgate dos mesmos.


Segundo André Luiz, o centro coronário, atuando como um diretor em relação aos outros, é o órgão responsável pela implementação desta lei no Espírito:


“(…) Dele parte, desse modo, a corrente de energia vitalizante formada de estímulos espirituais com ação difusível sobre a matéria mental que o envolve, transmitindo aos demais centros da alma  os reflexos vivos de nossos sentimentos, idéias e ações, tanto quanto esses mesmos centros, interdependentes entre si, imprimem semelhantes  reflexos nos órgãos e demais implementos de nossa constituição particular, plasmando em nós próprios os efeitos agradáveis ou desagradáveis de nossa influência e conduta.


A mente elabora as criações que lhe fluem da vontade, apropriando-se dos elementos que a circundam, e o centro coronário incumbe-se automaticamente  de fixar a natureza da responsabilidade que lhes diga respeito, marcando no próprio ser as conseqüências felizes ou infelizes de sua movimentação consciencial no campo do destino.” [8]


Como se vê, o homem só é verdadeiramente livre antes de pensar ou de agir, porque a partir do instante em que já emitiu uma ação em determinada direção, fica condicionado a um retorno, que mais cedo ou mais tarde se manifestará.


A lei de causa e efeito tem por objetivo o bem da criatura. Ela não tem, como muitos pensam, um caráter punitivo, mas sim uma ação educadora, no sentido de fazer o ser reconhecer o seu erro, e indicar-lhe o caminho mais curto do acerto. Quando o apóstolo Pedro, diz em sua epístola: “O amor cobre a multidão de pecados”[9], quer nos ensinar que não é preciso sofrer para resgatarmos uma “dívida”, mas através da vivenciação do amor, podemos atingir o mesmo alvo de uma forma mais ampla e sem dor. Isto porque, como já dissemos, o objetivo da lei de causa e efeito, não é punir. Se pela vivenciação dos ensinamentos cristãos, o ser se redime, então não é preciso sofrer.


Vimos então que a ação da lei, do ponto de vista espiritual, não tem uma forma absoluta de se manifestar. Pode o homem pelo seu livre arbítrio acrescentar novas forças no sentido de abrandá-la ou de agravá-la.


Para melhor entendimento do assunto, sugerimos a análise de dois casos em que esta lei atua.


O primeiro fala sobre a possibilidade de abrandamento da lei, quando o elemento “amor” atua.


“Saturnino Pereira sofre um acidente na fábrica onde trabalha, vindo a perder o polegar direito. Seus colegas e amigos comentam a injustiça da ocorrência, dada a grande dedicação de Saturnino ao bem de todos. Comparecendo à reunião mediúnica em que colabora regularmente, um benfeitor espiritual espontaneamente lhe esclarece que, em existência anterior, foi poderoso sitiante que, num momento de crueldade, puniu barbaramente um pobre escravo, moendo-lhe o braço direito no engenho. Com o despertar de sua consciência, atrozes remorsos torturam-no no além túmulo. Deliberou então impor-se rigoroso aprendizado, programando um acidente para futura encarnação, na qual perderia o braço. No entanto, sua renovação para o bem, testemunhada por suas ações, possibilitou que o acidente apenas lhe ocasionasse a perda de um dedo.[10]


No segundo, vemos a lei atuando de maneira mais rigorosa:


André Luiz estudava, junto de amigos no plano espiritual, o caso de Laudemira, uma irmã que padecia muitas dificuldades no instante de dar à luz um filho muito importante para o seu processo evolutivo.


Envolta que estava por fluidos anestesiantes que lhe eram desfechados por perseguidores do plano invisível, durante o sono, tinha a vida uterina prejudicada por extrema apatia. Como conseqüência, talvez fosse necessária a intervenção cirúrgica. Mas a cesariana neste caso não seria aconselhável, porque a prejudicaria outras gravidezes que iriam se fazer necessárias.


Imbuídos que estavam de estudar os mecanismos da lei de causa e efeito, foi permitido a eles informação sobre o passado de nossa irmã, conforme veremos a seguir:


“(…) As penas de Laudemira, na atualidade, resultam de pesados débitos por ela contraídos, há pouco mais de cinco séculos. Dama de elevada situação hierárquica na corte de Joana II, Rainha de Nápoles, de 1414 a 1435, possuía dois irmãos  que lhe apoiavam todos os planos loucos de vaidade e domínio. Casou-se, mas sentindo na presença do marido um entrave ao desdobramento das leviandades que lhe marcavam o caráter, acabou constrangendo-o a enfrentar o punhal dos favoritos, arrastando-o para a morte. Viúva e dona de bens consideráveis, cresceu em prestígio, por haver favorecido o casamento da rainha, então viúva de Guilherme, Duque da Áustria, com Jaime de Bourbon, Conde de la Marche. Desde aí, mais intimamente associada às aventuras de sua soberana, confiou-se a prazeres e dissipações, nos quais perturbou a conduta de muitos homens de bem, e arruinou as construções domésticas, elevadas e dignas, de várias mulheres do seu tempo. Menosprezou sagradas oportunidades de educação e beneficência que lhe foram concedidas pela Bondade Celeste, aproveitando-se da nobreza precária para desvairar-se na irreflexão e no crime. Foi assim que ao desencarnar, no fastígio da opulência material nos meados do século XV, desceu a medonhas profundezas infernais, onde padeceu o assédio de ferozes inimigos que não lhe perdoaram os delitos e deserções. Sofreu por mais de cem anos consecutivos nas trevas densas, conservando a mente parada nas ilusões que lhe eram próprias, voltando à carne por quatro vezes sucessivas, por intercessão de amigos do Plano Superior, em cruciantes problemas expiatórios, no decurso dos quais, na condição de mulher, embora abraçando novos compromissos, experimentou pavorosos vexames e humilhações da parte dos homens sem escrúpulos que lhe asfixiavam todos os sonhos (…)”[11]


Hilário, amigo de André nesses estudos, perguntou ao instrutor, se de cada vez que se retirava da carne, nessas quatro existências, Laudemira continuava ligada às sombras. Ele responde que sim:


Ela naturalmente entrava pela porta do túmulo e saía pela porta do berço, transportando consigo desajustes interiores que não podia sanar de momento para outro.  E continua (…) Nossa irmã, com o amparo de abnegados companheiros, voltou ao pagamento parcelado das suas dívidas (…)”[12]


Silas, o instrutor de nossos amigos na espiritualidade, informa ainda que estava previsto para ela receber nesta encarnação outros filhos:


“(…) Deve agora receber cinco de seus antigos cúmplices na queda moral, para reergue-lhes os sentimentos, na direção da luz, em abençoado e longo sacerdócio materno.” E complementa “Do seu êxito no presente, dependerão as facilidades que espera recolher do futuro, para a liberação definitiva das sombras que ainda ofuscam o Espírito, pois, se conseguir formar cinco almas na escola do bem, terá conquistado enorme prêmio, diante da Lei amorosa e justa.”


Concluindo então, temos que a lei de causa e efeito é um artifício da Misericórdia Divina para nos fazer retornar às origens, ou seja, ao Amor.


3 - Influência do Meio e Livre Arbítrio


É preocupação de todos os tempos, a questão da influência do meio na formação do caráter do homem. Filósofos chegaram a afirmar ser o homem produto do meio. O Espiritismo, em seu caráter filosófico, também tem neste questionamento muita contribuição para dar, e ainda vai além, porque estuda não só a influência do meio, mas também do organismo, na manifestação do Espírito.


São os próprios Espíritos quem nos afirmam:


“É inegável que sobre o Espírito exerce influência a matéria (…). Daí vem que, nos mundos onde os corpos são menos materiais do que na Terra, as faculdades se desdobram mais livremente. Porém, o instrumento não dá a faculdade (…) Tendo o homem instinto do assassínio, seu próprio Espírito é, indubitavelmente, quem possui esse instinto e quem lho dá; não são seus órgãos que lho dão.”[13]


“A matéria é apenas o envoltório do Espírito, como o vestuário o é do corpo. Unindo-se a este, o Espírito conserva os atributos da natureza espiritual.”[14]


Com isso temos que realmente tanto a matéria como o meio podem dificultar ou auxiliar no desenvolvimento espiritual, mas jamais determinar a situação de queda ou de elevação.


Tanto o meio como o corpo são atributos conquistados pela própria evolução espiritual. Na verdade, é o Espírito quem determina, pelas suas vinculações, o corpo ou o meio em que irá renascer. Se fosse impossível subtrair-lhe a sua influência, como conseguiria ele o progresso?


Temos também o caso em que o corpo ajuda ao Espírito, porque o esconde de seus inimigos. É comum vermos histórias de Espíritos que retornaram ao corpo físico como forma de esconder de seus obsessores. Outras vezes o corpo nos livra de situações embaraçosas da lei de atração: no estado de vigília superamos determinada tendência, mas quando no estado de desprendimento do perispírito, através do sono, nos achamos diante desta mesma tendência, não conseguimos nos livrar de sua influência. Neste caso, o corpo funciona como defesa.


O livre arbítrio é sempre o que fala mais alto. Sem ele, qual o mérito ou demérito do Ser em processo de evolução?


O que o homem procura é justificar seus erros através da má interpretação do texto evangélico, quando Jesus nos afirma: “Na verdade o Espírito está pronto, mas a carne é fraca.”[15]. O que Jesus quis dizer é que temos que nos vigiar, porque todas as vezes que nos deixamos levar pelos interesses imediatistas (da carne), entramos em processo de queda, ou seja, fraquejamos.


“Segundo a doutrina vulgar, de si mesmo tiraria o homem todos os seus instintos, que, então proviriam, ou da sua organização física, pela qual nenhuma responsabilidade lhe toca, ou da sua própria natureza, caso em que lícito lhe fora procurar desculpar-se consigo mesmo, dizendo não lhe pertencer a culpa de ser feito como é. Muito mais moral se mostra, indiscutivelmente, a Doutrina Espírita. Ela admite no homem o livre arbítrio em toda a sua plenitude e, se lhe diz que, praticando o mal, ele cede a uma sugestão estranha e má, em nada lhe diminui a responsabilidade (…) Assim de acordo com a Doutrina Espírita, não há arrastamento irresistível: o homem pode sempre cerrar ouvidos à voz oculta que lhe fala no íntimo, induzindo-o ao mal (…)”[16]


Para melhor entendimento do mecanismo de vigilância, que se faz necessário para o bom desenvolvimento de nosso evoluir, sugerimos o estudo do capítulos I e II do livro Pensamento e Vida do nosso bondoso Espírito Emmanuel.


Ele mostra a questão nos seguintes moldes:


“O reflexo esboça a emotividade.


 A emotividade plasma a idéia.


 A idéia determina a atitude e a palavra que comanda as ações.”[17]


No capítulo seguinte temos:


“Comparando a mente humana a um grande escritório, subdividido em diversas seções de serviço, temos aí o departamento do Desejo, em que operam os propósitos e as aspirações”.[18]


Relacionando o ensinamento deste capítulo com o anterior, temos o desejo como gerador da idéia (pensamento), sendo esta determinadora da ação.


Assim temos:


DESEJO  Þ     PENSAMENTO   Þ     AÇÃO


Portanto, moralizemos nosso desejo, e moralizaremos nossas ações.


Mas como moralizar nossos desejos, se eles são frutos da nossa longa experiência reencarnatória?


Segundo Emmanuel, neste mesmo capítulo, temos na mente os departamentos do desejo, da inteligência, da imaginação, da memória, mas “acima de todos eles, porém, surge o Gabinete da Vontade”.


E prossegue:


“A Vontade é a gerência esclarecida e vigilante, governando todos os setores da ação mental (…)


(…) A eletricidade é energia dinâmica.


O magnetismo é energia estática.


O pensamento é força eletromagnética.


Pensamento, eletricidade e magnetismo conjugam-se em todas as manifestações da Vida Universal, criando gravitação e afinidade, assimilação e desassimilação, nos campos múltiplos da forma que servem à romagem do espírito para as Metas Supremas, traçadas pelo Plano Divino.


A vontade, contudo, é o impacto determinante.


Nela dispomos do botão poderoso que decide o movimento ou a inércia da máquina.”


Portanto, podemos dizer que o Espírito é forte o suficiente para vencer as dificuldades impostas pelo meio, e pelo organismo. Para isso basta usar a força chamada: vontade.


4 - Tudo me é lícito, mas nem tudo edifica


É muito comum no meio espírita a pergunta: O Espiritismo proíbe “isso”? e “aquilo”? Será que podemos fazer esta “coisa”?


Para respondê-la, lembramos da instrução do apóstolo Paulo, em sua 1a epístola aos Coríntios: “Todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas convêm; todas as coisas me são lícitas, mas nem todas as coisas edificam.” [19]


Ao analisar esta proposição formulada pelo “Apóstolo dos Gentios”, devemos nos situar no significado da palavra lícito.


Segundo o dicionário Aurélio, “lícito” “é tudo que é conforme a lei, tudo que é legal”.


Normalmente, quando fazemos ou tentamos responder esta pergunta, não estamos preocupados com as coisas humanas. Estas nós sabemos como conduzir. A preocupação normalmente é com as questões espirituais. Com isso entendemos que esta pergunta deveria ser formulada assim:


“- De acordo com as leis divinas podemos fazer isto? E aquilo?”


E a resposta seria: É lícito perante as leis divinas? Se a resposta for afirmativa, então, é; de outro modo, não.


Essa forma de pensar parece que contradiz a afirmativa de Paulo, porque ele diz que todas as coisas são lícitas. Em nosso modo de compreender Paulo não pensava na lei divina ao usar a palavra lícita, mas pensou ao dizer: “mas nem todas as coisas convêm”, “nem todas as coisas edificam”. E tudo isso é bastante coerente com outro ensinamento de sua autoria: “Porque todos os que sem lei pecaram, sem lei também perecerão; e todos os que sob a lei pecaram, pela lei serão julgados.[20]”
Sabemos que a lei divina é revelada aos homens na medida da condição evolutiva de cada um, isto nos leva a raciocinar que de acordo com esta condição evolutiva da criatura é que ela vai analisar o que é justo ou não.


A Doutrina Espírita não proíbe nada, um dos seus princípios básicos é o “livre arbítrio” (todas as coisas são lícitas), assim sendo ela não é proibitiva, mas é educativa, no sentido de mostrar a verdade, e ensinar o caminho para conseguí-la (mas nem todas as coisas edificam).


O apóstolo, com este seu ensinamento, mostra sua capacidade de síntese e consegue fechar todo o tema que ora estudamos: “Livre Arbítrio e Causa e Efeito”. Com a afirmação de que “tudo me é lícito”, ele mostra o livre arbítrio, mas é taxativo ao afirmar: “nem todas as coisas edificam”, ou seja, nem todas as coisas nos conduzem para o caminho do Senhor, e é aí que a lei de causa e efeito atua de maneira a fazer voltar o ser à direção correta.


Outra coisa a ser analisada é qual o nosso objetivo diante da vida. Ela nos oferece muitos prazeres de caráter transitório, mas se o nosso objetivo maior é a nossa evolução espiritual, temos que buscar algo mais duradouro: o tesouro que o ladrão não rouba, nem a traça corrói[21].


Quando Jesus conversava com as irmãs de Lázaro, deixou um grande ensinamento: Marta, Marta, estás ansiosa e afadigada com muitas coisas, mas uma só é necessária; e Maria escolheu a melhor parte, a qual não lhe será tirada.[22]


Portanto quando estivermos em dúvida sobre qual o caminho a seguir, usemos o nosso discernimento, e busquemos pensar se não estamos trocando:


“O divino, pelo humano


O transcendente, pelo rotineiro


O que redime, pelo que cristaliza


O espiritual, pelo material


Os prazeres do Céu, pelas alegrias da Terra”[23]


E lembremos sempre o que Ele, que é o Mestre dos mestres nos disse: “Eu sou o caminho, e a verdade e a vida. Ninguém vem ao Pai, senão por mim.”[24]


[1] PERALVA, Martins. Estudando o Evangelho. 6a Ed., Rio de Janeiro, FEB, 1992..cap. 30
[2] João, 8: 32
[3] KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980, questão 829
[4]  (KARDEC 1980), questão 836
[5]  (KARDEC 1980), questão 851
[6]XAVIER, Francisco C./ Vieira, Waldo/Luiz, André. Evolução em Dois Mundos, 13a Ed., RJ, FEB, 1993,  2a parte cap XVIII


[7] João, 10:10
[8]  (XAVIER/Waldo Vieira/André Luiz, 1993), 1a parte, cap. II
[9] I Pedro, 4: 8
[10] XAVIER, Francisco C./Hilário Silva.  A vida Escreve, Rio de Janeiro, FEB, 1960, II Parte, cap XX
[11] XAVIER, Francisco C./André Luiz. Ação e Reação, 6a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1978, cap. 10
[12] Idem, ibidem
[13]  (KARDEC 1980), questão 846
[14]  (KARDEC 1980), questão367
[15] Mateus, 26: 41
[16]  (KARDEC 1980), questão 872
[17] XAVIER, Francisco C./Emmanuel (Espírito). Pensamento e Vida, 9a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1991, cap. I
[18] Idem, ibidem, cap. II
[19] I Coríntios, 10:23
[20] Romanos, 2: 12
[21] Cf. Mateus, 6: 19 e 20
[22] Lucas, 10: 41
[23] (PERALVA 1992), cap. 48
[24] João, 14:6


Fonte: Espiritismo e Evangelho (site)

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Uma mensagem para você!!


Para Agir Melhor


Confie em Deus e em você mesmo para dirigir-se, mas entenda que você, por enquanto, ainda é um ser humano, sem ser um anjo.
Exercite auto-aceitação, a fim de não se marginalizar nas idealizações negativas.
Não chore pelas experiências que se lhe fazem necessárias, porque a lamentação repetida conduz simplesmente à solidão e a solidão, mesmo brilhante significa inutilidade e vazio.
Se você errou e consegue reconhecer, já possui também discernimento bastante para retificar-se.
Guarde a lição do passado sem transportar consigo a embalagem dos problemas de que você a extraiu.
Compreendamos os outros em suas lutas para sermos compreendidos em nossas dificuldades.
O tempo é um mercado de oportunidades constantes na construção que podemos aproveitar, quanto e quando quisermos.
Se você espera progresso e milagres em seu caminho não pare de trabalhar.
Garantindo saúde e paz, equilíbrio e segurança em favor da própria vida, aceite os outros tais quais são, sem alimentar inveja ou ressentimento.
Recorde os talentos que lhe enriquecem a personalidade e as bênçãos que lhe valorizam a existência e lembre-se que todo dia é momento de estender a prática do bem, esquecer o mal, aprender sempre mais e fazer o melhor.


André Luiz.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Obsessões Complexas Por Aparelhos Parasitas: Considerações Doutrinárias. Dr. Vítor Ronaldo


IVONE A. PEREIRA E MANOEL PHILOMENO DE MIRANDA REGISTRAM OBSESSÕES COMPLICADAS PELA PRESENÇA DE ARTEFATOS FLUÍDICOS DESARMONIZADORES.


Dr. Vitor Ronaldo Costa





A questão das obsessões espirituais está longe de ser desvendada em sua totalidade, tamanha a diversidade de mecanismos íntimos responsáveis pelo desencadeamento das mais complexas síndromes defrontadas pelo gênero humano. Muito embora, na visão espírita, tenha-se o conhecimento teórico dos fatores predisponentes das obsessões (vingança e a vontade de fazer o mal por parte dos espíritos focados na crueldade), pouco se conhece a respeito da forma pela qual o processo ganha curso. O modus operandi da obsessão espiritual constitui-se um desafio, pois nem todos os casos decorrem da simples ação hipnótica, da telementação entre o obsessor e a sua vítima.


A obsessão decorrente da sugestão mental foi perfeitamente descrita por Allan Kardec em “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXIII1, oportunidade em que o Codificador estabeleceu uma classificação alicerçada na gradação crescente dos efeitos opressivos sobre o encarnado, tais como a obsessão simples, a fascinação e a subjugação.(1) Assim, pode-se dizer que no contexto das obsessões complexas, ou seja, aquelas que ultrapassam os limites da simples sugestão mental, identifica-se um tipo caracterizado pela presença de verdadeiros artefatos fluídicos desarmonizadores inseridos na contraparte astral das criaturas, com a finalidade de produzir, por ressonância vibratória, sintomas estranhos e contundentes, caracterizados por dores lancinantes, limitações funcionais, enfermidades degenerativas, tumorais ou comprometimento mental severo.


Esses “aparelhos”, uns mais simples e de maior tamanho, outros minúsculos e sofisticados, podem ser considerados pontos de partida de um número expressivo de obsessões espirituais graves, daí a importância dos espíritas conhecerem detalhadamente o assunto. Desde a década de 60, a literatura espírita brasileira, coleciona breves informações a respeito do assunto, mais precisamente duas, registradas por autores confiáveis.


Talvez, por se tratar de temática pouco ventilada no contexto doutrinário, a questão tenha caído no esquecimento, pois a pesquisa experimental não é norma no nosso movimento espírita, com raras exceções, a exemplo dos trabalhos desenvolvidos pelos confrades Hernani Guimarães Andrade, Hermínio de Miranda, Lamartine Palhano Jr. e José Lacerda de Azevedo, este último, o grande estudioso das obsessões complexas.


Pois bem. Relembremos, inicialmente, algumas informações canalizadas por médiuns que merecem crédito. A saudosa e respeitada médium Ivone A. Pereira, em sua obra “Recordações da Mediunidade”, 1966 (FEB)2, descreve um caso acontecido em 1930, em que se percebe nitidamente a presença desse “aparelho parasita” responsável por gravíssimas conseqüências. Tratava-se de uma criança com 13 anos de idade, levada pelos pais ao antigo “Centro Espírita de Lavras”, época em que a própria médium servia de intérprete ao espírito do Dr. Bezerra de Menezes. A história clínica pode ser assim resumida. Desde os dois anos, o jovem defrontou-se com deformidades físicas em pernas e braços, acompanhadas da incapacidade de articular palavras. Para todos os efeitos, tratava-se de um caso grave de mudez. A saudosa médium assim relata como o diagnóstico foi feito: “Ao penetrar a sede do Centro, acompanhado pelo pai, os dois videntes então presentes e também eu mesma fomos concordes em perceber uma forma escura e compacta cavalgando o rapaz, como se ele nada mais fosse que uma alimária de sela, visto que até as rédeas e o freio na boca (grifo nosso) existiam estruturados na mesma sombra escura”. Ora, a forma escura montada nas costas do garoto nada mais era do que o seu obsessor, antigo escravo, odiento e vingativo, em virtude do sofrimento que lhe fora imposto pelo seu senhor de então. Todavia, mediante o tratamento espírita, o jovem ficou literalmente curado no espaço de trinta dias. E a médium assim finaliza o seu comentário: “Deslumbrado, o pai do rapaz tornou-se espírita com toda a família, desejoso de se instruir no assunto, enquanto o filho, falando normalmente, explicava, sorridente: 'Eu sabia falar, sim, mas a voz não saia porque uma coisa esquisita apertava minha língua e engasgava a garganta...' Essa coisa esquisita seria, certamente, o freio forjado com forças maléficas invisíveis...”


Observem que se tratava de um caso não resolvido pela medicina tradicional. A evolução prolongada por mais de 10 anos deixara efeitos marcantes no campo físico do jovem, inclusive a mudez aparentemente irreversível. No entanto, o esclarecimento a que foi submetida a entidade espiritual no trabalho desobsessivo e a retirada do freio bucal (aparelho parasita) contribuíram para reverter o inditoso quadro. Demonstração inequívoca de que a terapêutica espiritual, quando bem orientada, quando integrada por tarefeiros altruístas suficientemente treinados e coordenada pelo Mundo Maior, pode amenizar bastante o sofrimento das enfermidades complexas.


Outra referência notável encontra-se na obra “Nos Bastidores da Obsessão”, 1970 (FEB)3, psicografada pelo respeitável médium Divaldo Pereira Franco. No capítulo intitulado “Processos Obsessivos”, pinçamos informações sobre um tipo de aparelho parasita bem mais sofisticado, provido de recursos eletrônicos e arquitetado por um gênio das sombras. Atentem para a transcrição de pequeno trecho feito pelo nobre pesquisador espiritual, Manoel Philomeno da Miranda: “Iremos fazer uma implantação – disse em tom de inesquecível indiferença o Dr.Teofrastus – de pequena célula foto-elétrica gravada, de material especial, nos centros da memória do paciente. Operando sutilmente o perispírito, faremos com que a nossa voz lhe repita insistentemente a mesma ordem: 'Você vai enloquecer! Suicide-se!' Somos obrigados a utilizar os mais avançados recursos, desde que estes nos ajudem a colimar os nossos fins. Esse é um dos muitos processos de que nos podemos utilizar em nossas tarefas... Estarrecidos, vimos o cruel verdugo movimentar-se na região cerebral do perispírito do jovem adormecido, com diversos instrumentos cirúrgicos, e, embora não pudéssemos lograr todos os detalhes, o silêncio no recinto denotava a gravidade do momento.”


A análise dos dois casos citados é suficiente para que se fique alerta quanto à possibilidade das obsessões complexas. No primeiro exemplo, a ação patogênica foi desencadeada por um aparelho rudimentar, em forma de freio eqüino, fixado na parte interna da mucosa bucal, a dificultar o desenvolvimento da linguagem. Era um tipo de aparelho parasita, a bem dizer, grosseiro, forjado com fluídos densificados, mas muito bem implantado na estrutura anatômica do perispírito, correspondente à boca no campo orgânico. Caso tal artefato fluídico não tivesse sido diagnosticado pelos médiuns videntes e retirado naquela oportunidade, certamente o problema da mudez não teria sido corrigido. No segundo caso, esse aparelho, como ficou visto, era muito mais delicado, de tamanho reduzido, auto-funcionante, inserido cuidadosamente por meio de cirurgia em área nobre do encéfalo, com a finalidade de emitir sugestões subliminares contínuas até romper o equilíbrio psíquico da pobre vítima e levar-lhe à loucura total e ao suicídio.


Observem ainda um outro pormenor, importante fator diferencial na técnica de investigação dos citados casos. Quando os médiuns fixaram a atenção na criança, logo perceberam a presença de um campo vibratório denso fortemente imantado ao perispírito do garoto, como a cavalgar-lhe o dorso. Era o obsessor que ali se encontrava a manipular as rédeas e o tal freio bucal. De certa forma o diagnóstico não apresentou dificuldade. A análise clarividente dos médiuns permitiu a identificação do artifício obsessivo. Todavia, no caso citado por Manoel Philomeno de Miranda, o diagnóstico exigiria um pouco mais de conhecimento e traquejo. O diminuto aparelho parasita, semelhante a verdadeiro “chip” eletrônico incrustado na intimidade do cérebro, sem a presença costumeira do obsessor ao lado do enfermo, provavelmente dificultaria o diagnóstico da síndrome. O grupo mediúnico teria de se valer da clarividência espontânea ou induzida pel
o desdobramento perispirítico, para identificar o minúsculo instrumento cerebral e depois localizar na erraticidade umbralina o espírito responsável.


Como se deduz, são situações que requerem um bom nível de treinamento do grupo mediúnico, e, sobretudo, o concurso de dirigentes afeiçoados às modernas técnicas de investigação do psiquismo de profundidade. Além do mais, era preciso localizar à distância o espírito responsável pela cirurgia do implante, para que, uma vez atraído ao cenário mediúnico, o mesmo fosse submetido ao diálogo esclarecedor e convencido a retirar, ele próprio, o artefato parasita, oportunidade ofertada pela misericórdia divina com vistas à recuperação inicial da entidade maléfica envolvida em sombras.


Pode-se adiantar aos prezados leitores que, apesar do árduo desafio, esse desiderato é perfeitamente exeqüível. Tudo vai depender de alguns requisitos essenciais, a saber: experiência do grupo mediúnico na tarefa desobsessiva; formação criteriosa na doutrina codificada por Allan Kardec, apoio incondicional dos mentores espirituais; e disposição de servir aos necessitados, de acordo com as normas evangélicas norteadoras do Espiritismo. Não obstante as técnicas avançadas engendradas pelos verdugos espirituais, já se dispõe, no presente momento, de contramedidas defensivas capazes de fazer frente ao avanço das sombras.


No entanto, em se considerando a sujeição da maioria dos mortais aos processos obsessivos de repercussão grave, não se deve olvidar as normas sabiamente ofertadas por Manoel Philomeno de Miranda, na obra anteriormente citada: “– Em qualquer problema de desobsessão, a parte mais importante e difícil pertence ao paciente, que afinal de contas é o endividado. A este compete o difícil recurso da insistência no bem, perseverando no dever e fugindo a qualquer custo aos velhos cultos do 'eu' enfermo, aos hábitos infelizes, mediante os quais volta a sintonizar com os seus perseguidores que, embora momentaneamente afastados, não estão convencidos da necesstdade de os libertar. Oração, portanto, mas vigilância, também, conforme a recomendação de Jesus. A prece oferece o tônico da resistência, e a vigilância o vigor da dignidade.”






(1) Como foi apresentado em nossa postagem anterior, baseada na Revista Espírita, Allan Kardec admitiu a Possessão.




Bibliografia:


1- Allan Kardec. “O Livro dos Médiuns”, capítulo XXIII, 59ª edição, FEB.


2- Yvone A. Pereira. “Recordações da Mediunidade”, Capítulo 10, pg. 193, 2ª edição, FEB.


3- Manoel P. de Miranda & Divaldo P. Franco. “Nos Bastidores da Obsessão”, capítulo 8, pg.159, 1ª edição, 1970, FEB.


4- Idem, pg. 158.


Fonte: Medicina e Espiritualidade (medicinaespiritual.blogspot.com)

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Possessão, Segundo Allan Kardec


“Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz; 
o homem precisa habituar-se a ela pouco a pouco, do contrário fica deslumbrado.
(Allan Kardec)




Há possessos ? Existe a possibilidade de dois Espíritos coabitarem num mesmo corpo ?
Vamos consultar a codificação para esclarecer esses e outros pontos:


Livro dos Espíritos

Perg.473–Pode um Espírito tomar temporariamente o invólucro corporal de uma pessoa viva, isto é introduzir-se num corpo animado e obrar em lugar do outro que se acha encarnado nesse corpo ?

O Espírito não entra em um corpo como entrais numa casa. Identifica-se com um Espírito encarnado, cujos defeitos e qualidades sejam os mesmos que os seus, a fim de obrar conjuntamente com ele. Mas, o encarnado é sempre quem atua, conforme quer, sobre a matéria de que se acha revestido. Um Espírito não pode substituir-se ao que está encarnado, por isso que este terá que permanecer ligado ao seu corpo até ao termo fixado para sua existência material.

Kardec, retira suas conclusões, prepara e formula a pergunta seguinte, e os Espíritos respondem: (1)

Perg. 474_ Desde que não há possessão propriamente dita, isto é coabitação de dois Espíritos no mesmo corpo, pode a alma ficar na dependência de outro Espírito, de modo a se achar subjugada ou obsidiada ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada ?

Sem dúvida e são esses os verdadeiros possessos. Mas é preciso saibais que essa denominação não se efetua nunca sem que aquele que sofre o consinta, que por sua fraqueza, quer por deseja-la. Muitos epilépticos ou loucos, que mais necessitam de médico que de exorcismos, têm sido tomados por possessos.

Os Espíritos aí, fazem uma nítida distinção entre os verdadeiros e os falsos possessos.

Os verdadeiros são os subjugados até ao ponto de sua vontade vir a achar-se, de certa maneira, paralisada; os falsos são os que não correspondem aos casos de obsessão, necessitando tratamento médico.

Comenta ainda Kardec, após a resposta dos Espíritos:

O termo possesso só se deve admitir como exprimindo a dependência absoluta em que uma alma pode achar-se a Espíritos imperfeitos que a subjuguem.


Já na Revista Espírita de 1858 o codificador registrou:

Antigamente dava-se o nome de possessão ao império exercido pelos maus Espíritos, quando sua influência ia até a aberração das faculdades. Mas a ignorância e os preconceitos, muitas vezes, tomaram como possessão, aquilo que não passava de um estado patológico. Para nós, a possessão seria sinônimo de subjugação. Não adotamos esse termo (...) porque ele implica igualmente a idéia de tomada de posse do corpo pelo Espírito estranho, uma espécie de coabitação ao passo que existe apenas uma ligação. O vocábulo subjugação da uma idéia perfeita. Assim, para nós, não há possessos, no sentido vulgar da palavra; há simplesmente obsedados, subjugados e fascinados.

Fica bastante claro que, para ele, até aqui, não era admitida ou conhecida, ainda, a possessão.

Já na Revista Espírita de novembro de 1862, o codificador volta a analisar esse termo com o estudo dos "Possessos de Morzine"; Onde ele mesmo ratifica as afirmações feitas anteriormente.

Já na mesma Revista, no mês de dezembro de 1863, o excelso codificador nos traz em caso, por ele analizado, que reproduziremos a seguir:




UM CASO DE POSSESSÃO.
Senhorita Julie.

Dissemos que não havia possessos no sentido vulgar da palavra, mas subjugados;
retornamos sobre esta afirmação muito absoluta, porque nos está demonstrado agora que
pode ali haver possessão verdadeira, quer dizer, substituição, parcial no entanto, de um
Espírito errante ao Espírito encarnado. Eis um primeiro fato que é a prova disto, e que
apresenta o fenômeno em toda a sua simplicidade.


Várias pessoas achavam-se um dia na casa de uma senhora médium sonâmbula.
De repente esta tomou ares todos masculinos, sua voz mudou, e, dirigindo-se a um dos 
assistentes, exclamou: 


"Ah! meu caro amigo, quanto estou contente de te ver! "


Surpreso, p

erguntou-se-lhe o que isso significava. A senhora retomou: 


"Como! meu caro, tu não me

reconheces? Ah! é verdade; estou todo coberto de lama! Sou Charles Z..."
A este nome, os assistentes se lembraram de um senhor morto, alguns meses antes, atingido de um ataque de apoplexia, na beira de um caminho; tinha caído num fosso, de onde se tinha retirado seu corpo, coberto de lama. Ele declara que, querendo conversar com seu antigo amigo, aproveitou de um momento em que o Espírito da senhora A..., a sonâmbula, estava
afastado de seu corpo, para se colocar em seu lugar. Com efeito, tendo se renovado esta cena vários dias seguidos, a senhora A... tomava cada vez as poses e as maneiras habituais do Sr. Charles, virando-se sobre a costa da poltrona, cruzando as pernas, roçando o bigode, passando os dedos sobre seus cabelos, de tal sorte que, salvo o vestuário, poder-se-ia crer ter o Sr. Charles diante de si; no entanto, não havia transfiguração, como vimos em outras circunstâncias. Eis algumas de suas respostas:

P. Uma vez que tomastes posse do corpo da senhora A..., poderíeis ali ficar? - R. Não, mas isso não é a boa vontade que me falta.

P. Por que não o podeis? 
 R - Porque seu Espírito está sempre preso ao seu corpo.
Ah! se eu pudesse romper esse laço, pregar-lhe-ia uma peça.

P. Que fez durante esse tempo o Espírito da senhora A... ?-
R. Estava lá, ao lado, me olhava e ria de ver-me nesse vestuário.
Essas conversas eram muito divertidas; o Sr. Charles fora um alegre vivente, não desmentia seu caráter; dado à vida material, era pouco avançado como Espírito, mas naturalmente bom e benevolente. Tomando do corpo da senhora A..., não tinha nenhuma intenção má; também essa senhora não sofria de nenhum modo dessa situação, à qual se prestava de boa vontade, É bom dizer que ela não havia conhecido esse senhor, e não podia estar com efeito em suas maneiras. Há ainda a anotar que os assistentes nem pensavam
nele, a cena não foi provocada, e que veio espontaneamente.


A possessão é aqui evidente e ressalta melhor dos detalhes, que seria muito longo reportar; mas é uma possessão inocente e sem inconveniente. Não ocorre o mesmo 
quando ela é o fato de um Espírito mau e mal intencionado; pode então ter conseqüências 
tanto mais graves quanto esses Espíritos sejam tenazes, e que se torna, freqüentemente, 
muito difícil livrar deles o paciente do qual fazem sua vítima. Eis disso um exemplo recente, 
que nós mesmos podemos observar, e que foi objeto de estudo sério pela Sociedade

de Paris.

A senhorita Julie, doméstica, nascida em Savoie, com a idade de vinte e três anos, de um caráter muito doce, sem nenhuma espécie de instrução, estava há algum tempo 
sujeita a acessos de sonambulismo natural, que duravam semanas inteiras; nesse estado 
ela vagava em seu serviço habitual, sem que as pessoas estranhas desconfiassem disso; 
seu trabalho mesmo era muito mais cuidadoso. Sua lucidez era notável; ela descrevia os 
lugares e os acontecimentos à distância com uma perfeita exatidão.

Há mais ou menos seis meses, tornou-se presa de crises de um caráter estranho, que ocorriam sempre durante o estado sonambúlico, de alguma sorte se tornou o estado 
normal. Ela se contorcia, rolava na terra como se debatesse sob a opressão de alguém 
que procurava estrangulá-la, e, com efeito, tinha todos os sintomas da estrangulação; acabava

por derrubar esse ser fantástico, tomava-o pelos cabelos, cobria-o em seguida de golpes, de injúrias e de imprecações, repreendendo-o sem cessar com o nome de Frédégonde, 
infame regente, rainha impudica, vil criatura suja de todos os crimes, etc. Sapateava 
como se a pisasse sob os pés com raiva, lhe arrancasse suas roupas e seus adornos.

Coisa bizarra, se tomava ela mesma por Frédégonde, se dava golpes redobrados sobre os braços, o peito e o rosto, dizendo: 'Toma! toma! disso tens tu bastante, infame Frédégonde?

Queres me sufocar, mas não alcançarás esse fim; queres te meter em minha caixa, mas eu saberia bem isso te afastar." Minha caixa era o termo do qual ela se servia 
para designar seu corpo. Nada poderia pintar o assento frenético com o qual ela pronunciava 
o nome de Frédégonde, rangendo os dentes, nem as torturas que ela experimentava 
nesses momentos.

Um dia, para se desembaraçar de seu adversário, agarrou uma faca e feriu-se a si mesma, mas se pôde detê-la a tempo para impedir um acidente. Coisa não menos notável, 
é que jamais ela não tomou nenhuma das pessoas presentes por Frédégonde; a dualidade 
era sempre em si mesma; era contra ela que dirigia seu furor quando o Espírito 
estava nela, e contra um ser invisível quando dele estava desembaraçado; para os outros, 
ela era doce e benevolente mesmo nos momentos de sua maior exasperação.

Essas crises, verdadeiramente terríveis, freqüentemente, duravam algumas horas e se renovavam várias vezes por dia. Quando ela acabava por derrubar Frédégonde, caía 
num estado de prostração e acabrunhamento do qual não saía senão com o tempo, mas 
que lhe deixava uma grande fraqueza e um embaraço na palavra. 

Sua saúde com isso 
era profundamente alterada; nada podia comer e ficava às vezes oito dias sem tomar alimento.

Os melhores alimentos tinham para ela um gosto terrível que a fazia rejeitá-los; era, para ela, a obra de Frédégonde, que queria impedi-la de comer.

Dissemos mais acima que essa jovem não recebeu nenhuma instrução; no estado de vigília, jamais ouviu falar de Frédégonde, nem de seu caráter, nem do papel que esta 
desempenhava. No estado de sonambulismo, ao contrário, sabia-o perfeitamente, e disse 
ter vivido em seu tempo. Não era Brunchaut, como se havia de início suposto, mas uma 
outra pessoa ligada à sua corte.

Uma outra nota, não menos essencial, é que, quando começaram essas crises, a senhorita Julie jamais tinha se ocupado do Espiritismo, cujo nome mesmo lhe era desconhecido.

Ainda hoje, no estado de vigília, lhe é estranha e não crê nele. Não o conhece
senão no estado de sonambulismo, e somente depois que se começou a cuidar dela. Tudo o que ela disse, pois, foi espontâneo.




Em presença de uma situação tão estranha, uns atribuem o estado dessa jovem a uma afecção nervosa; outros a uma loucura de um caráter especial, e é necessário convir que, à primeira vista, esta última opinião tinha uma aparência de realidade. Um médico declarou que, no estado atual da ciência, nada podia explicar semelhantes fenômenos, e que não via nenhum remédio. No entanto, pessoas experimentadas em Espiritismo reconheceram
sem dificuldade que ela estava sob o império de uma subjugação das mais
graves e que poderia lhe tornar fatal. Sem dúvida, aquele que não tivesse visto senão os momentos de crise, e não tivesse considerado senão a estranheza de seus atos e de suas palavras, teria dito que ela estava louca, e ter-lhe-ia infligido o tratamento dos alienados que, sem nenhuma dúvida, teria determinado uma loucura verdadeira; mas esta opinião
deveria ceder diante dos fatos. No estado de vigília, sua conversação era a de uma pessoa de sua condição e em relação com sua falta de instrução; sua própria inteligência era vulgar; era tudo diferente no estado de sonambulismo: nos momentos de calma, ela raciocina com muito sentido, justeza e uma verdadeira profundidade; ora, essa seria uma
singular loucura quanto aquela que aumentaria a dose de inteligência e de julgamento. Só o Espiritismo pode explicar essa anomalia aparente. No estado de vigília, sua alma ou Espírito está comprimido por órgãos que não lhe permitem senão um desenvolvimento incompleto; no estado de sonambulismo, a alma, emancipada, está em parte livre de seus
laços e goza da plenitude de. suas faculdades. Nos momentos de crise, seus atos e suas palavras não são excêntricas senão para aqueles que não crêem na ação dos seres do mundo invisível; não vendo senão o efeito, não remontam à causa, eis porque todos os obsidiados, subjugados e possessos passam por loucos. Nas casas de alienados, em todos os tempos, houve pretensos loucos dessa natureza, e que se curariam facilmente se não se obstinassem em não ver neles senão uma doença orgânica.
Nesse momento, como a senhorita Julie era sem recursos, uma família de verdadeiros e sinceros Espíritas consentiu em tomá-la a seu serviço, mas nessa posição ela devia ser muito mais um embaraço do que uma utilidade, e seria necessário um verdadeiro devotamento para dela se encarregar. Mas essas pessoas disso foram bem recompensadas, primeiro pelo prazer de fazer uma boa ação, e em seguida pela satisfação de ter contribuído poderosamente para a sua cura, hoje completa; dupla cura, porque não só a senhorita Julie está livre, mas seu inimigo está convertido para melhores sentimentos.
Aí está o que testemunhamos de uma dessas lutas terríveis que não duram menos de duas horas, e que pudemos observar o fenômeno nos mais minuciosos detalhes, fenômeno no qual reconhecemos imediatamente uma analogia completa com os dos possessos de Morzines (1). A única diferença é que em Morzines os possessos se entregavam a atos contra os indivíduos que os contrariavam, e que falavam do diabo que tinham neles, porque lhes tinham persuadido de que era o diabo. 
A senhorita Julie, em Morzines, seria chamada Frédégonde, o Diabo.


Através deste estudo vemos que Allan Kardec não apenas reconheceu a possessão como a estudou e teve dela casos que atestaram sua veracidade.
Muitos citam Kardec, poucos são os que se dedicam ao estudo aprofundado de suas obras.
Portanto, afastemos de nós a preguiça, que muitas vezes, nos faz aceitar tudo o que lemos e ouvimos, e vamos, por nossa vez, nos dedicarmos um pouco mais ao estudo de nossa Doutrina, seguindo assim, o inesquecível conselho do Espírito Verdade, frase tema de nosso blog:
"Espíritas amai-vos, eis o primeiro mandamento. E Instruí-vos eis o segundo."
Espírito Verdade, Evangelho Segundo o Espiritismo, CAP. VI item 5

Paz e luz!

Fonte: Livro dos Espíritos perguntas 473 e 474
Revista Espírita de  dezembro de 1862 sobre os possessos de Morzines, (1)

Revista Espírita de dezembro de 1863 Um caso de Possessão.